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Mostrando postagens de 2020

Pastel de Tilápia

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Ela nunca gostara de pastel frito. Sim, ela era "chata pra comer", como ele agora fazia questão de enfatizar. Ela se resignara: fazer o que? Porque salgados, frituras, gorduras e afins nunca fizeram sua cabeça ou seu estômago: seu paladar era pros doces e guloseimas... coisas que a plenitude dos anos lhe trouxera: permitir-se! Nas festinhas, ela era dos docinhos, raramente dos salgadinhos. E dos bolos, especialmente se fossem de chocolate - será que o motivo era ter nascido num mês festivo? Leu isso nalgum lugar e se identificou: ela gostava mesmo de festejar com "bolo, guaraná e muito doce pra você"! Mas isso já é outro devaneio; agora ela estava pensando era na ironia da situação: exatamente no final de semana dos seus novos anos... pastel frito??? Chegaram na pequena cidade no horário do almoço, depois de uma viagem mais ou menos longa e algumas escalas. Finalmente ela iria ter uns dias de solitude compartilhada - com ele. Tinham tomado café na estrad

Impropério

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Ela não era dada a impropérios com frequência - pelo menos não ultimamente. Ainda mais naquelas circunstâncias: estavam se conhecendo, ela tentando "dar o melhor de si"(!). Não que isso fosse uma preocupação real dela, há muito estava praticando o desapego da encenação... Pra que se passar por alguém que de fato não é? Num cenário em que as máscaras físicas já nos eram necessárias, ela há muito optara por ser real. Mas não era do tipo que xingava, questão de princípios...  E tudo estava caminhando - literalmente - muito bem: embora não tivessem conseguido visitar o museu, nem comer os prometidos churros, o passeio estava agradabilíssimo! Fotos, contemplação, caminhadas... e como caminharam naquele dia! O destino final era a escada rolante, ops: roda gigante! O que estava acontecendo com ela? Desde que o conhecera, vivia trocando as palavras, embolando as frases! E, estranhamente, tudo era muito simples e natural ao seu lado, ainda assim. Depois de finalmente chegarem à afamad

A captura

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Tudo começou assim, como uma brincadeira... e foi crescendo, está crescendo - em constante evolução. Um estranhamento, que deu lugar à sintonia e à captura dos olhares. Olhares de curiosidade, de interesse. Conversas rápidas, fluidas, com o humor sempre em destaque. Ele sempre muito ocupado e atarefado; ela falante e instigante. Ambos com paixão pelos olhares capturados e captáveis. Aquele estranhamento foi se tornando sua linguagem, sua conexão e sua sintonia. Um dia, uma imagem e uma mensagem subliminar. Uma porta que, entreaberta, foi sendo escancarada. Um flerte sutil e contínuo - tímido. A distância física os aproximava nos interesses, fantasias e possibilidades. As vozes passaram a compor aquela dança lenta, porém contínua. E então a surpresa: uma possibilidade real, palpável e próxima. Os protocolos de segurança e os inconvenientes estavam ali para serem seguidos e superados. A insegurança de ambos quase pôs fim àquela novidade. Ele falou, mas não sugeriu; ela sugeriu, mas em se

Nimbostratus (Ns)

“Documento em branco”, me diz o Word. É uma boa ideia pra começar algo. Mas estou sem ideias. Sem vontade. Sem sorriso. Sem. Dia 80, quisera eu que fosse o dia 100. Só me ocorrem os trocadilhos, sem me socorrerem de fato. Inté.

#dia79

Podia ser de quarentena: não é. Podia ser de isolamento: não é. É apenas a cronologia do calendário romano ocidental adotado: o septuagésimo nono dia do ano lunar de 2020 d.C. Assim sigo contando e registrando, quando necessário considero. As emoções andam loucas aqui dentro e gostaria mesmo de saber como andam meus hormônios, porque tudo tem mudado com muita frequência... Dúvidas e ideias me visitam a todo instante, insinuando e sugerindo opções até então descartadas, abandonadas, resolvidas. Necessito da inexorabilidade do tempo: que ele passe, que as situações se “normalizem” e assentem em seus devidos lugares, para que a serenidade em mim prevaleça. “No aguardo”.

Estelar, sexta-feira 13, news e COVID-19: #toomuchinformation!

1-     Estelar “Sobre ontem à noite” - atualizando, sobre aquela noite! - quisera eu ter feito uma cobertura digna! Mas o que vivenciei requeria entrega e sentimento, para além de me exercitar como profissional que sou – ou fui, dúvidas agora me rondam...  Assim começo um relato agradecido e emocionado de uma experiência necessária! Presenças e participações luxuosas (adjetivo by @eucrisguerra, luxuosíssima!), que transformaram a noite em verdadeira constelação aqui nas “terras baixas”!   Me rasgo em elogios porque me senti resgatada, de uma existência que tem sido isso: um existir. Há tempos me faltava emoção, paixão, entusiasmo! Foi um olhar em torno, um sair de mim e perceber outras realidades, outras necessidades: a tal da sororidade! E assim renascer, de fato e de direito! Muito discurso pra pouca atitude, muita #hashtag pra pouca vivência: temos existido em dias assim... viver é mais que isso! Mais que olhar, é enxergar; mais que ouvir, é escutar; mais que falar, é comu

Hoje não dá

“Está um dia tão bonito lá fora e eu quero brincar! Mas hoje não dá...”  Tudo mentira: "tô tão cansadinha: não fui à aula hoje, quero nem brincar!" E assim passou o dia, chegou a noite e mais cansada fiquei. Dormi, acordei e o cansaço persiste: quando o descanso? "... quero mais saúde!" 

Dia D

Hahaha! Ela sorriu pra si, ironicamente: sempre usava esse mecanismo de autodefesa, admitia. Quantas vezes não foi criticada por seu sarcasmo e ironia recorrentes? Whatever ... não que ela fosse dada a estrangeirismos, ao contrário, mas a palavra lhe ocorreu e traduziu bem seu sentimento, com o perdão do trocadilho - nisso os americanos eram bons, em expressões! Críticas, repreensões e repressões à seu natureza: já estava farta! Naquele dia acordou com mais sono que o normal, provavelmente resultado do relaxante muscular que tomara antes de dormir... fazer o que? As dores estavam voltando e ela, claramente uma viciada em remédios, só queria dormir logo e acordar melhor no outro dia. O resultado: aquela sonolência conhecida e uma dorzinha de cabeça remanescente! "Lá vamos nós de novo", pensou. E sorria. Imaginando que aquele dia podia ser o início de um novo ciclo, o fim de uma época amarga. Assim como o gosto que ficava em sua boca no dia seguinte, ao despertar. Quantas vezes

Um novo capítulo

Depois de um longo tempo de abandono, ela retornou. Às letras, leituras, literaturas. Cansou da vida digital, superficial, moderna. Sentiu saudades de suas escrivinhações aleatórias. Seus pensamentos admirados, ainda que nem tanto admiráveis. Percebeu-se longeva e ultrapassada nas versações que tanto gostava, sentiu-se quase obsoleta! Aprendera a contentar-se com menos: no afã de ser mais resignada, tornara-se indulgente com a pobreza de ideias e ideais. E pensamentos e sentimentos. Ao se perceber tão destituída de si mesma, voltou! Revirou suas gavetas, armários, pastas, livros e cadernos, inclusive emocionais. Permitiu-se um novo capítulo, naquele livro abandonado. Talvez um segundo tomo. Recomeçou-se.

Desabafo de antes

Naquele dia fui almoçar no restaurante de antes, de sempre. Ou pelo menos de sempre de antes. E minha amiga, que lá trabalha, ao me ver chegando, já foi logo perguntando: por que você está com essa cara ruim (ou feia, agora não lembro bem qual foi o termo que ela usou – o sentido é o mesmo, qual a relevância disso???)? Sorri, respondendo que às vezes é bom fazer uma cara feia, pra assustar um pouco as pessoas. Ainda que eu quisesse acreditar, não me convenci. Eu só tenho estado assim, ultimamente: sem muita vontade de qualquer coisa. Minha fisionomia tem refletido meu estado de espírito: não estou a fim. A fim de que? De qualquer coisa diferente de dormir, de estar desligada da vida. A que se deve essa indisposição que vem me assombrando ultimamente? Pergunta que eu gostaria de conseguir responder com precisão, de alguma maneira que não fosse irromper em lágrimas, tão somente... vontade de jogar o telefone na parede ou chão também, com toda força – pra ver se paro de olhar sua tela d

Uma tentativa passada

Uma folha em branco me encara, expectante. Enfrento-a, embora sem muita convicção de corresponder ao seu convite. Estou sequiosa por palavras que preencham esse espaço que se instalou: aqui, aí, entre nós. Símbolos gráficos que expressem o que não consigo definir. Onde aquela conexão hilariante, automática e presente? Será já o hábito, acomodando-nos? O tempo, que parecia ter sua cronologia própria conosco, parece ter retornado ao seu andamento normal, pesando e repisando seus segundos, minutos, horas... esse contador de hiatos que se agora recusam a formar ditongos por meio das palavras, até então nossas aliadas! Logo elas, que flutuavam com inacreditável leveza entre nós, indo e voltando num ritmo constante e estimulante... Falamos, digitamos, mas não estamos nos comunicando verdadeiramente. Ouvimo-nos sem escutarmo-nos. Somos relatórios ambulantes de uma rotina multitarefada. Não falamos quem realmente somos, o que sentimos, o que queremos, o que nos faz sorrir ou o que nos entriste