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Parêntese afetivo

O dia está ensolarado, é sexta-feira. Tudo colaborando para o bom humor - que não vem. Ele continuava lutando pra esquecer, pra superar... mas como? Se cada coisa lembrava-lhe dela. Se queria a todo momento compartilhar algo - com ela. Como retroceder no sentimento e tornar-se indiferente àquilo que lhe ia no peito? Até a nova colega de trabalho, simpática e sempre presente, tinha o mesmo nome dela: precisava?! E então... uma mensagem de bom dia, carinhosa... dela! Pronto: todo seu esforço, toda tentativa de ser forte, foi tudo por água abaixo! Seu ânimo melhorou, até brincou com os colegas... ah, o afeto: sempre ele! 

Refazendo-me

E então o retorno.  Sem imagem.  Uma volta às origens.  Este que "abandonado" ficou, substituído foi, agora faz-se veículo de expressão.  Ainda e sempre.  A vida sendo irônica: aqui onde tudo começou, derivou.  Aqui, refrigério e refúgio.  E tomada que fui pelo rolo compressor virtual, escrava que fui das impressões alheais, esqueci-me de apenas ser.  Eu, eu mesma e...  Volto a mim, em busca de me assentar e reequilibrar em 48 voltas em torno do Sol.  Porque o tempo vai, célere, já descendo a encosta... e tenho urgências de sorrir, de brincar, de amar... Volto. 

Ode Helênica

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Quantos sorrisos e alegrias cabem em 30 anos? Quanto aprendizado, tristezas, decepções e recomeços? Mensuramos os dias, a vida, em números. A cronologia nos acompanha e norteia, desde sempre. Mas não pode nos quantificar o sentimento. Porque é de afeto que nos qualificamos e necessitamos. É dele que nos abastecemos. É ele que nos move e envolve, impulsiona-nos a prosseguir. Os números são apenas símbolos quando de amor tratamos. E já que de simbolismo nos valemos, celebremos esta data! Há 30 anos seus olhos se abriram para esta existência. Ela veio, reencontrou-nos e fez-se presente em nossas vidas. Chegou assim, meio sem avisar - será mesmo? Não sabiam nossos corações desse amor que nos estava reservado? Cientes ou não, a ele nos entregamos e rendemos. Porque seu afeto é doce rendição e  redenção. Porque seu seu carinho, sua delicada e firme presença nos enlevaram e conquistam, diariamente. O bebê se fez criança, a criança se fez aprendiz da mulher que hoje enaltecemos. Poderia aqui d

Acima das nuvens, abaixo do céu

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Subiu a rua quase correndo, arrastando a mala de rodinhas, de chinelo mesmo: só calçou os saltos no terminal. Não seria nada bom enfrentar aquelas calçadas portuguesas em cima de pelo menos 5 cm! Ainda estava apreensiva com o horário, mas decidiu arriscar e se jogar: era mais que um salto no escuro, era literalmente um salto no espaço! Contou os minutos até o aeroporto, mas nem deveria ter se preocupado tanto: chegou e foi tudo rápido e eficiente, logo já estava no seu apertado assento, na janela. Nem se importou, foi logo fazendo amizade com os companheiros de fileira, expondo toda sua fagueira mineiridade! Ela tentava se controlar, mas seu entusiasmo era notório e audível. Quando o avião começou a taxiar e acelerou, ela se entregou, fez-se criança novamente e vibrou com a decolagem! Olhou as luzes se afastando, brilhando cada vez mais ao longe e, assim como a aeronave, subiu. Elevou-se em corpo e mente, deixou-se levar pela sensação que a invadia e desfrutou daquele momento. Viajou.

Cores (res)guardadas

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As flores caíram.  Guardo-as na folha dobrada, dentro do envelope.   Não há beleza no vaso, agora só galhos vazios.  As folhas estão amarelando.   É o outono do presente.   Há que se aguardar o tempo do renovo.   Porque assim é: as estações se sucedem.  Assim somos: quatro estações.  No futuro, inverno: agasalhemo-nos dos nossos afetos reais.  E então florir novamente!  Tempo de espera. 

Sem medo de avião

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Depois de mais de 40 anos, vou voar de novo! Com asas emprestadas, mas vou. As minhas tenho usado diariamente, aqui e ali. Verdade que há 6 meses tenho empreendido voos mais frequentes. Começaram com um salto no escuro. E não me assustei. Ao saltar, percebi que tinha asas – e podia voar. Então tenho voado: voos longos, curtos, baixos e altos. Como todo voo, há momentos de pegar impulso, bater as asas, planar, alterar a rota, pousar. Mas sempre apreciando a paisagem. Tenho visto muitas paisagens, os cenários mudam a todo instante. Necessário saber entender essa inconstância – ainda estou aprendendo. Quisera um céu de brigadeiro todos os dias! Na impossibilidade do ideal, vivo o real. Todos os dias me dão possibilidade de voo. Nem sempre decolo. Há dias de ficar em terra firme. Há dias de estudar o melhor plano de voo. Nesses mais de 180 dias, desde que saltei, houve também dias de querer desistir de voar. De olhar pro céu e ter dúvidas, muitas. É sempre um risco, qualquer voo – o risco

Entreouvidos

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Dentro dos ônibus que me levam e me trazem, escuto histórias, vejo vidas. Nos caminhos que me são necessários percorrer, ouço, imagino e viajo. Crio enredos, traço desfechos. Como no caso de Daniel e Alice, por exemplo. Hoje em dia ele não se mata mais de trabalhar: não tem mais 20 anos, agora ele quer mais é aproveitar a vida! Fala pra Alice que ela tem que parar de ficar correndo pra lá e pra cá em dois empregos: esse tempo já foi. Que a gente tem que planejar e ralar muito até os 40 anos. Se depois disso não tiver conquistado casa, emprego, família, tem que focar em aproveitar os momentos. Agora ele vive assim. Arrumou um lugar baratinho  pra almoçar no centro e assim, quando chega em casa, tem mais tempo pra si. E pros seus filhotes, motivo de sua dedicação e esforço materiais. Alice parece meditar sobre as palavras de Daniel, mas logo engata outro assunto: o reality show, que ela acompanha 24h/dia, com a assinatura que fez - menos quando a chefe está. Não dá pra ela vacilar, empre

Pisoteada

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Qual a história dos pés?  Os pés pisam: a terra, o chão.  Sustentam-nos. Sustêm-nos. Os pés: suas plantas e solas. Enraizam-nos. Por vezes nos elevam. Por outras nos levam ao baixio dos lugares. Há que se planificar os caminhos. Palmilhar a estrada. Plantar. Sedimentar. Os pés na terra. E, plantados, pisar o céu. 

Quitutes e acepipes

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Necessitava de uma entrega. Entrega de sabores. Ou pelo menos dos meios de fazê-los chegar a ele, de ajudá-lo no preparo. Quisera partilhar mais, mas por ora era o que podia ser. A ideia povoava sua cabeça já há dias. Seria um presente. Porque os sabores necessitam estar presentes. Assim como as presenças há que serem saborosas – e saboreadas. Então viu uma receita, muito apropriada. Imaginou-o preparando aquele prato estilizado numa refeição... idealizou seu deleite, deleitou-se também. Ventilou-lhe as possibilidades, quis ser vento para sentir os aromas. Missão impossível, contentou-se com as benesses virtuais disponíveis. Foi imagem e voz e presença, naquilo que poderia ser. Puderam ambos sentir o mesmo sabor, ainda que ao longe: ela com alguma supressão, mas sem pesar. A realização e eternização daquele momento sublimava as faltas. Não houve excessos, nada ali sobrava. Numa imagem: um delicioso quitute. Em palavras: receita de afeto.

Receita sob encomenda

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Ele adorava cozinhar. Mas só tinha duas panelas, desde que fora morar só: uma elétrica e uma frigideira. Então não se aventurava muito na cozinha, atendo-se ao básico do dia a dia. Aí ela foi visitá-lo e ele contou das receitas que sabia preparar – muito mais que ela! E ela o viu em ação... ficou imaginando... voltou pra casa e aquela ideia amadureceu. Descobriu o endereço, que ela não tinha anotado. Pesquisou um pouco, mas surgiram dúvidas: “e agora? Não é pra ele saber, é pra ser surpresa”! Mas não teve jeito, ela precisou perguntar e ele desconfiou, claro. Mas ela não revelou tudo. Comprou-lhe um jogo de panelas e mandou entregar, no dia seguinte! Viu então a receita: não teve dúvidas, enviou-lhe. Ele adorou – ela já imaginava. E disse a ele que poderia prepará-la adequadamente no dia seguinte... Ele suspeitou, mas mantiveram o jogo, o suspense. Ela mal podia esperar pra saber sua reação ao receber as panelas! No dia seguinte, logo cedo, o pedido saiu pra entrega: oba! Mas alguns de

Epifania

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Desejo por essa sensação. Como se fosse possível desejá-la... Como se fosse algo planejado! Porque então não seria o que é. O que desejo é mais que saber. É compreender, quiçá entender – quanta presunção! Quem de nós entende, se não apenas compreende... Ao menos vislumbrar o que pode ser. O querer. E assim, subitamente, celebraria: “Tive uma epifania!”

Jogo de damas

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Nunca jogava dominó. Ela gostava de jogar damas. E eles, tentando ser bons netos, sempre a deixavam ganhar. Mentira: ela é quem os deixava ganhar. Mas somente no início, enquanto não sabiam os truques do jogo. Da vida. Ela nunca teve um sentimento muito bem definido pela avó – única que sempre conheceu e conviveu, de fato. Lembrava-se daquela viagem à casa dos tios, quando ela apertou seu braço, no supermercado, exigindo obediência. Nunca se esquecera – e não devia ter nem seis anos de idade...   Ou quando lhe disse que parasse de pular como uma cabrita: a menina prontamente retrucara à senhorinha de cabelos eternamente acinzentados! Por que a neta agia assim com ela? Não sentia carinho ou afeto, parecia-lhe uma obrigação. Mas não tinha raiva, embora houvesse histórias que instigavam sua revolta e o ciúme dos primos. Parecia-lhe que era mais uma indiferença. Estranha para uma criança. Mas que cresceu. Cresceu num sentimento negado e no tempo. Mesmo quando a avó lhe presenteara em seu “

Intercâmbio à mineira

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Ela era mineira. Do tipo que se mudou de MG, mas que o coração doía de saudades do jeitim e dos queijos, trem que só quem é mineiro entende! Mas a vida tem que seguir sua rota e ela seguiu. Dona de um sorriso aberto e personalidade cativante, nem demorou a se adaptar à nova realidade. Mulher antenada, logo se adequou também ao universo virtual, aumentando suas possibilidades de expansão das fronteiras geográficas e culturais. Lúcia sempre foi daquelas que não tem papas na língua e que não dispensa um bom papo, independentemente da origem das palavras. E assim conheceu Luiz: um paranaense simpático, já na segunda idade (!). Lúcia achou que valia a pena dar uma chance – contrariando seu histórico de romances, já que ela sempre se envolvera com homens mais jovens e joviais - Luiz não era bem o tipo. Aposentado, viúvo, com filhos, netos e pai doente para cuidar, buscava uma companheira. Lúcia só queria companhia, a princípio. Desde seu último revés amoroso, ela evitava se comprometer. Entr

A sereia da Pampulha - Cap. 10 / Final

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Demorei um tempo pra me acostumar com a realidade: onde eu estava? Abri os olhos pra me dar conta: estava no meu quarto, na minha cama! Como assim? Eu estava na beirada da lagoa, tinha sentado no banco pra tirar um cochilo! Wanderley tinha ficado com meu telefone, pra registrar algo e/ou me acordar, no caso da esperada aparição! Olhei de novo à minha volta e não encontrei meu telefone... será? O que estava acontecendo, afinal? Faltava pouco pras 17h do dia 03 de fevereiro, uma quarta-feira. Naquele dia eu não estava escalada pra trabalhar presencialmente e tinha cochilado, depois do almoço – aparentemente. Estava com uma sensação estranha, que sempre me acompanhava quando tinha algum sonho intenso. Eu me lembrava claramente de tudo, de cada passo: tinha ido até a Lagoa da Pampulha, em busca de informações sobre a sereia! Tinha andado por ali, tentado entrar no parque, conversado com comerciantes, com os pescadores... até que pedi ajuda a um deles, Wanderley. E dormi em seguida. Teria s

A sereia da Pampulha - Cap. 9

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Tirei os tênis e larguei mochila, bolsa e tudo o mais no gramado à minha frente. Minha vontade era deitar no banco, mas considerei arriscado, abusar da sorte. Fechei os olhos e quase que imediatamente apaguei! A última imagem que vi foi Wanderley, aguardando os peixes, com meu telefone ao seu lado - ele tinha entendido minhas explicações. E o melhor, tinha se disposto a me ajudar! Então dormi, mesmo: um sono profundo, pesado, no qual se sonha ininterruptamente. Foi assim. No início eu não estava entendendo direito. Mas eu nadava, submersa. E aí tudo foi ficando claro: eu circulava livremente em meio a muitos peixes, numa água de um azul profundo, como profunda parecia aquela... lagoa! Não sentia necessidade de respirar, era-me natural estar ali, debaixo d’água. Olhei pra mim mesma: tinha os cabelos compridos, inteiros, de um negro intenso, caindo sobre os seios nus e as costas! Da cintura pra baixo, meu corpo era de peixe: eu era uma sereia! O espanto não durou mais que um segundo, log

A sereia da Pampulha - Cap. 8

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- Wanderley, você acredita mesmo na história da sereia? Já a viu alguma vez? - perguntei. - Ver, ver, eu não vi... mas já ouvi de outros pescadores que nem eu, que viram: que ela aparece e desaparece do nada! E sempre nuns horários assim, anoitecendo... será que hoje ela vem? Porque parece que ela não gosta muito de multidão e hoje a lagoa vai encher! – respondeu. Pensei: prefiro que a lagoa se esvazie, pelo menos da sereia, Wanderley... Tentei: - Preciso de sua ajuda numa ideia que tive: pode ser? É porque estou até meio zonza, de um sono que tá me dando e não estou me controlando! E tem aquele banco ali, me chamando, mas eu queria muito filmar a lagoa... você ainda vai ficar por aqui um tempo? Wanderley me encarou, entre surpreso, curioso e desconfiado: naquela altura dos meus esforços em ficar acordada, distinguir qual era a emoção predominante era-me impossível! Mas enfim a curiosidade venceu e ele aproveitou pra lançar seu anzol também: - Estou sempre disposto a uma pescaria, não

Cerimonial

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Em busca de me expressar, encontrei no universo tecnológico um modelo de “carta essencial”: nada mais apropriado. Ela latejava em mim. Necessária. Eu protelava, porque sabia que seria difícil. Como o é: sentir que o tempo passou e o que ele tragou. Nosso tempo passou? Aparentemente sim. Apegamo-nos ao que nos acostumamos, receosos de deixar ir. Entretanto, sinto as ausências: aqui e ali, presentes. As motivações já não são mais as mesmas, os desejos são distintos. E tudo assim, num crescendo do distanciamento se instalando. As palavras são estudadas, comedidas, consternadas. O natural tornou-se constrangedor. Não sabemos mais ser nós, somos flashes do que fomos. Ou um arremedo do que poderíamos ser. Escolhas que fazemos, caminhos que escolhemos. Tentamos conciliar os mundos, mas se torna tarefa árdua: eles (nós?) se encontram povoados de quereres outros, agora. Enganamo-nos com planos e ideias ideais: a realidade se nos apresenta, indigesta. Desconfortamo-nos com nossas presenças, teme

Natureza Desnudada

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Sempre me identifiquei muito com minhas origens: indígenas, aborígenes, negras, pardas e afins. Talvez por isso seja tão ligada à natureza, às terras e principalmente às águas. Mas é como índia que tantas vezes me reconheço. Quisera ter coragem de assim viver. Mas já fui há muito domesticada, colonizada, aculturada. Estou adaptada a essa vida urbana. Mas o tribal em mim grita, por vezes esperneia. Quero a liberdade das matas, das águas. Desejo poder me desnudar de amarras estéticas, físicas e emocionais. Mesmo não sendo(?) tão liberta assim. Mas tenho flertado com minha nudez. Apreciado. Experimentado. Ver-me. Despir-me de conceitos e preconceitos. Pré: concebidos, construídos, ensinados. Não somos somente um envoltório? Pra que tanta preocupação? Ocupemo-nos de apenas ser. E cubramo-nos de nós mesmos. Cubramo-nos de amor. Desnudo-me, então.

A sereia da Pampulha - Cap. 7

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Dados os elementos desta história, minha teoria não pode ser considerada assim tão fantasiosa. Pelo menos não pra mim. Se existe uma sereia, que habita as águas da Lagoa da Pampulha e faz eventuais aparições, porque não considerar a sua forma humana, afinal? Porque se ela assim vive, pode muito bem ter se adaptado, para que só em certas ocasiões assuma sua porção sirênica – e esse não é mais um neologismo meu! Faz muito mais sentido e seria mais crível... se é que um “causo” assim pode ser! Por mais que eu goste de relatos fantásticos, super-heróis e afins, um ser que fosse parte mulher/parte sereia poderia estar vivendo entre nós muito mais facilmente. E, junte-se a isso, minhas suposições ainda mais incríveis: por que eu nunca conseguia vê-la, estava sempre desmaiada nas ocasiões em que ela aparecia??? Aquele episódio do clube não me saía da cabeça e estava alimentando uma suspeita que só se reforçava... eu continuava lutando contra o sono, agora mesmo! Logo quando eu encontrara algu

A sereia da Pampulha - Cap. 6

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“Oi, boa tarde, tudo bem? Muitos peixes hoje?” – arrisquei. O grupo era formado por três homens, uma mulher e um menino, esse último o mais animado de todos com a pescaria. A mulher mostrou-se receptiva ao meu contato, seus acompanhantes nem tanto. Leila, com quem consegui começar um papo, estava ali com o companheiro, o irmão e o filho. O outro homem era Wanderley, experiente pescador daquele local e de outros: uma boa fonte de histórias! Foi ele quem realmente se mostrou aberto e disposto a me ajudar – como um bom representante da classe, cheio de “causos” pra contar! Mas tentei saber de Leila e dos demais se vinham sempre pescar ali, se sabiam algo ou tinham algum palpite sobre a sereia. O companheiro e o irmão de Leila seguiram me ignorando, nada satisfeitos com minha presença. Assim, dei por encerrada minha investida com eles e me concentrei em Wanderley. Leila, por sua vez, não se reprimiu com a má vontade dos outros e quis dar sua opinião. Segundo ela, a sereia existia sim: havi

Efeméride

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Porque pensei na efemeridade da vida, dos dias, veio-me.  Porque todos os dias e momentos são importantes, dignos de nota. Por que esperamos? Pela hora que é a hora, quando todas são. Por que não olhamos o céu, banhamo-nos de sol, ainda que no caminho pro trabalho? Por que permitimos que o tempo nos leve e conduza, sem frui-lo? Porque passam-se os dias, os momentos, a vida.  Passou-se um ano. E, sem que eu me desse conta, efemerizou-se. 

A sereia da Pampulha - Cap. 5

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A ideia de visitar o restaurante, que substituíra a casa do famoso presidente, acabou sendo outra “bola fora”. Os funcionários daquele horário pouco ou nada sabiam sobre a sereia, atribuíam à ignorância e fantasia do povo. “Esses pescadores é que ficam inventando história” - desdenharam. Percebi que não estava fisgando nada porque também nada entendia de pescaria... mal, mal, de contar história! Resolvi que conversar com os pescadores seria minha última tentativa, porque minha pseudoinvestigação estava naufragando - péssimo trocadilho! E foi só tomar essa decisão pra sentir um bocejo se aproximando, assim como um sono incontrolável, dominador, que me fizeram abrir a boca sem dó! Assim, sem porquê nem pra que... e não era a primeira vez que sentia isso, sempre em momentos e datas esquisitíssimas! Lembrei que soube da “lenda” da sereia, por uma notícia de jornal popular, exatamente no dia seguinte ao meu primeiro e inexplicável “apagão”. Naquele dia eu tinha ido ao Iate Clube, que fica n

Respingos

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A chuva deixava-a com a alma molhada.  Algo assim como vontade de se enxugar ou de transbordar.  Verdade que felicidade não é item condicionado às mudanças climáticas - ela se repreendia, intimamente. Mas não dava conta de sorrir alegremente com aquela friagem trazida pelo vento e as águas do céu. Sentia urgências de colo, abraço apertado, cama quentinha.  Delírios de canecas fumegantes, pães de queijo saindo do forno e meias ¾ de pernas de galinha + camiseta geek!  Saudade em forma de tarde, no trabalho, no meio da semana.  Ventura de feriado na vida real.  Prenúncios de outono.

Sobre o tempo

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Ansiedade é a tônica deste dia. Mais de dez mil minutos se passaram: quantos nos aguardam? Todos os anteriores e posteriores não existem.  Porque só temos o agora, de fato - que agora não mais é.  Este exato minuto que afixo aqui é apenas uma tentativa.  Não quero ter que guardar nada: nem o tempo, nem memórias. Paradoxal que sou, escrevo: as palavras são registro atemporal. Salvam lembranças e resgatam o tempo. Elas permanecerão, eu pereço.  E, no entanto, revivo e resignifico-me pelas letras. Liberdade há de ser a marca deste dia.   

Diário de um desafio

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Dia 02 Este diário começa no segundo dia. É. Porque no primeiro eu simplesmente não tive esta ideia. E porque, mesmo tentando evitar qualquer movimento que chamasse atenção sobre mim, eu escrevi. Tenho certeza que leu. Mas não se manifestou. E eu, que propus o "desafio", percebi-me esperando um sinal. Confesso: fantasiei que lá pelo quarto, quinto dia, você não iria aguentar e faria contato, querendo acabar com este silêncio! Tentei, eu também, não me manifestar - e escrevi um ensaio (!). Pois pensei que eu não podia nem devia tentar um comportamento modificado. Tudo que desejo é que eu possa ser eu mesma! Ao mesmo tempo, repensei minhas palavras... não queria agir pra chamar atenção. E nem não agir, chamando talvez mais atenção pra ausência. Optei por ser eu: eu, eu mesma e... Preciso falar que tudo me lembrava/remetia a você? "ói procê vê!" - claro que quis te enviar este vídeo! Inexplicavelmente, dormi cedíssimo: 21h40 já estava deitada e só acordei hoje, no dia

Ensaio sobre o silêncio

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Quero as mais altas notas para me silenciar. Quero apenas gritar e falar sem parar dentro de mim mesma. O silêncio me é familiar e necessário, embora cause estranhamento. Sou do tipo que gosta de ficar só e calada, ouvindo-me. E falo muito, o tempo todo – mais ainda na minha cabeça. Tantas e quantas vezes me reprimi e ressenti por essa fala. Então, ironicamente, fui obrigada a fazer repouso vocal. A baixar o tom, a deixar de cantar – notas altas e baixas. Ensaio agora o silêncio. Hoje me calo.

Sutura

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Necessito de uma sutura, uma costura Pras lonjuras que me assolam – assim como com o Caio Pras investiduras que me faltam Pros dias e noites duras, que duram Pros cortes e fraturas Pra depois de extirpar os abscessos Desse excesso de acessos Necessito de cura.

Corante constante-relevante

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Um casa amarela me observa. Olhos atentos e janelas abertas. Quatro janelas. Parece-me significativo. Estou de amarelo e tenho especial predileção pelo número quatro. Vivo enxergando sinais, decifrando símbolos. Não que isso seja importante ou real - para outras pessoas. O que te importa? Quem se importa? Qual a medida da importância? Para cada qual, uma resposta diferente. Cabe responder com a sua verdade. Com aquilo que faz sentido e eco em si. Vivo respondendo às minhas perguntas e me perguntando. Para mim é importante. Importa-me enxergar os olhos atentos da casa amarela, com quatro janelas abertas. Serena, silenciosa. Ao cair da tarde, em meio ao movimento da rua. Ela permanecerá sempre ali: claro, é uma casa! Mas quem a habita ou ocupa? É residencial ou comercial? Quando é movimentada e qual seu movimento? Meu cérebro movimenta-se em possibilidades. Todas criações das minhas verdades, da minha realidade. Perguntas que me faço, que têm respostas reais. Mas prefiro criar minhas pró

A sereia da Pampulha - Cap. 4

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Toda minha preparação mental foi em vão: fui literalmente barrada na portaria!  vigilante fez cara de poucos amigos quando me viu subindo as escadas, resolutamente. Qual o que?! Com a mesma gravidade que procurei imprimir à minha expressão, ele me informou que o parque estava fechado para visitação. Mas e aquelas pessoas que eu vira circulando? – inquiri. Respondeu-me que eram funcionários da manutenção que, eventualmente, rodavam nos brinquedos para testá-los. Logo agora, que eu tinha traçado um plano de ação: do alto da roda gigante eu teria uma visão panorâmica da lagoa e de pontos interessantes para exploração! O mais alto que eu conseguira chegar, até então, era ao topo da escadaria do parque. E tudo que pude ver, olhando em volta, foi a silhueta do “Gigante da Pampulha” e seu irmão menor: o Mineirão e o Mineirinho, lado a lado. Não me fiz de rogada. Tentei convencer o grave rapaz a me deixar fazer a ronda dos brinquedos com os técnicos da manutenção, porque se tratava de um traba

A Sereia da Pampulha - Cap. 3

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Olhei em volta. Precisava pensar rápido. E agir também. O número de pessoas já havia aumentado consideravelmente desde que eu começara com meus devaneios... Ok: se eu fosse uma sereia atualizada, repaginada, qual local escolheria para uma aparição? Por mais que compartilhassem das águas, claramente o dia não era dela: a Rainha era o centro das atenções e iria ofuscar quaisquer outras presenças, com certeza! Eu precisava pensar como uma sereia... porque na minha improvisada e amadora investigação, esqueci também da logística, peça fundamental - por que é que eu sempre adiava aquela bendita carteira de motorista?! Hora dessas eu já teria percorrido toda a orla e identificado um local estratégico! Mas... e o romantismo da situação? Porque palmilhar aqueles caminhos me proporcionaria outras descobertas e possibilidades, bem ao estilo Miss Marple - embora naquele momento eu só conseguisse me lembrar dos meninos do filme "Os Goonies"! Aproveitei pra me servir de Cindy Lauper na tri

A Sereia da Pampulha - Cap. 2

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Já que ia mesmo ter que caminhar por ali e exercitar minha paciência jornalística para aquela apuração, aproveitei. Tirei os tênis, sentei na grama, apreciei a paisagem: "dei uma" de turista! Há quanto tempo eu não fazia isso? É fato que os tempos não estavam propícios para passeios em geral... mas como era uma terça-feira de fevereiro, cri que estaria mais tranquilo. Inocente dedução, porque parece que todo mundo estava com o mesmo pensamento e vontade de respiro. Isso não era um bom sinal, pensei. Esse povaréu vai afugentar minha presa! Quer dizer, não que eu fosse pretensiosa ao ponto de achar que iria capturá-la... já teria sorte se eu a encontrasse! Mas aquela concentração cada vez maior de pessoas não me pareceu um bom presságio. Decidi sair daquele meu idílio e ir à luta! Afinal, a sereia não estaria "dando sopa" pra qualquer curiosa que aparecesse! Embora eu contasse com um detalhe favorável, não era pra deixar o otimismo turvar o bom senso e o realismo. Era

A Sereia da Pampulha - Cap. 1

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Lenda urbana. Folclore local. Não se sabe. Mas a história ganhou força e agora vive no imaginário da população. E de quem ouve o relato. Assim como aconteceu com a Loura do Bonfim. Ou o Capeta do Vilarinho. Esse último ganhou até trilha sonora! Fato é que não há comprovação alguma da veracidade dos "causos" que se espalharam. Cada um mais fantástico que o outro! Tentei investigar e fazer jus às minhas aptidões. Em vão: só encontrei as capivaras... e uns peixes? Sempre tem um pescador esperançoso na beira da lagoa, a qualquer hora do dia ou da noite. Basta dar uma voltinha que você logo encontra um. E são eles os primeiros a jurarem, de pé junto, que ela existe: a Sereia da Pampulha! O título, por si, já é inverossímil: sereias são seres marítimos, como uma habitaria a lagoa??? Ainda mais sendo uma lagoa artificial! Mas... lembremos das capivaras: como foram parar lá? E os aguapés, reproduzindo-se descontroladamente! A cidade encerra muitos mistérios e não serei eu

Um brinde! E o descobrimento de Portugal

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Lembro-me do dia em que chegaram. Mas não me lembro de esperar por elas. Eu tinha exatos quatro anos, um mês, dois dias. Antes disso, minhas lembranças resumem-se a alguns flashes na escolinha/maternal. Parece-me que eu as esperava, na verdade. Do dia exato da chegada, precisamente há 43 anos, não tenho recordações reais. Mas me lembro de meu pai me levar à maternidade e visitarmos o berçário. Ele me mostrara minhas duas novas companheiras, na incubadora - nasceram com menos de sete meses! Respondi enfaticamente que as via, sim, quando perguntada: deslavada mentira! Como uma criança de tão pouca idade iria distingui-las, naquele mundo de bebês recém-nascidos? Mas eu queria vê-las... eu já as esperava, ainda que não soubesse disso! É claro que foi também um choque: eu era a única irmã de outros três irmãos, meninos. E, de repente, mais duas! Conscientemente não me lembro da ideia de rejeitá-las, mas provavelmente devo ter chorado, regredido em meu comportamento etc. Mas nada relativo à

Passeio

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Por aqui é passeio. Em alguns lugares diz-se calçada. Uma pesquisa rápida pela internet (!) informa que são coisas distintas. Não importa. Aqui vamos usar passeio, porque serve melhor ao objetivo.  Seus dias vinham sendo intensos. Muitas coisas a resolver, assuntos pendentes e novos - criados. Sentia-se motivado e impulsionado a realizar, criar, produzir. Resolvera que aquele dia seria das pendências. Mas acabou passando na loja de utilidades e providenciando um novo assunto. Para depois, talvez mais tarde.  Certificou-se que os óculos novos estavam corretos e rumou para a sede da associação. Esperava que aquelas fotos 3x4 bastassem para providenciar seu cadastro. Mas a atendente não pensava assim. Barrou-lhe as imagens inverossímeis, a declaração e o cadastro. Retirou-se resignado. Talvez no próximo ano.  Lembrou-se que precisava de provisões para o dia seguinte e encaminhou-se para aquele supermercado novo. Naquele bairro antigo... deu-se conta que durante a semana retomara o contato

Onde cantam os sabiás

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O cursor pisca pra mim: está me aguardando. Não gosto desta obrigatoriedade, mas ainda assim obedeço seu imperativo. As palavras hoje não estão sorridentes. Estão pensativas, reflexivas. Olho pela janela e vejo o mesmo cenário de anos... É sempre igual, mas cada dia é diferente. Agora o sol brilha. Os carros passam, o trânsito flui, indiferente às mazelas alheias - às minhas mazelas. Mesmo sem olhar, sei que a vida segue lá fora: o pipoqueiro voltou ao seu ponto aqui na rua; o motorista do coletivo segue seu itinerário; o senhor em situação de rua aguarda que o dia passe, sentado em sua cadeira. O funcionário da instituição vem buscar as doações, despertando-me dessa letargia. São instantes gratificantes. Converso um pouco com o pipoqueiro e retomo a rotina. Recebo mensagens, atendo ligações, respondo e-mails - trabalho. Divago um pouco. Lembro-me então daquelas palmeiras imperiais. Lá estão, impassíveis e atemporais. Estáveis e disponíveis, bastando pra isso que as admiremos. Olho pro

Olhos essenciais

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As sombras sugerem o que a escuridão oculta.  Apago as luzes pra clarear meus pensamentos. Imagino cenários fantásticos e situações incríveis. Fantasio com os objetos inanimados, para assim te materializar. No aqui. No agora. Em mim. Acendo as luzes da realidade. A chama da vela me ilumina o caminho, me reconduz. Revejo e reconheço cada pedaço seu nos pedaços meus espalhados. Organizadas e alinhadas, nossas partes aguardam o encaixe. Piso em terreno firme, perfumo o estrada e protejo a retaguarda. O destino nos aguarda. Porque "o essencial é invisível aos olhos".  

Belo e horizonte

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Os cenários da cidade me inspiram. Cada enquadramento sugere uma nova possibilidade. A caminho de atualizar meus olhares, registro mais um momento. Tem sido uma rotina agora. Um exercício quase que diário de atrelar às imagens alguma ideia, uma história. Naquele momento não me ocorreu, mas agora ela me vem. Porque tendemos a buscar por belas paisagens, a gostar do que é agradável. Mas costumo dizer que muitas vezes a beleza está ali, esperando pra ser descoberta. Ou valorizada. Otimista convicta, investigo essas bonitezas ocultas. Às vezes elas se perdem ou se escondem sob a capa da tristeza. Quantas vezes passamos por cenas cotidianas com o olhar já embotado, ignorando não só o triste e o feio, mas a vida que ali se encerra. A vida que é bela e feia também, que é alegre e triste, que é iluminada e sombria. Meu olhar apreende a torre do prédio ao longe, emoldurada pela copa da árvore. Percebo o lixo no chão e penso em fazer um novo registro. Ou editar aquela imagem. Mas então me dou co

Os 4 elementos

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Este é um apontamento sobre sonhos. Sobre desejos não realizados. E sobre planos futuros e possíveis. Sempre quis seguir carreira militar. Preferencialmente na Marinha ou Aeronáutica. Na ausência dessas opções, a carreira de bombeiro(a) militar também sempre a atraiu. Mas quis a vida que ela fosse menor que seu desejo. Ao menos no tamanho físico: não tinha a altura mínima exigida pra essas carreiras. Resignou-se - não sem uma certa frustração. Já que não podia voar, pedalava. Se não podia navegar, nadava. E escolheu salvar: a si mesma, em primeiro lugar. E foi nas palavras, escritas e faladas, que a salvação veio: para si e para quem agarrasse aquela boia. Ou aquela corda. Ou os paraquedas: seus preferidos! Vôos altos e rasos, mergulhos profundos ou boiar na superfície: salvar-se! Este é plano possível, passível, palpável. Sorriu então ao ver o carro de bombeiros que passava, com uma oficial que desceu e conferiu algo na carroceria: teria ela a altura certa? Sentiu-se representada: gig

Oratório

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Resolveu fazer uma caminhada: o isolamento estava acabando com sua sanidade - e com a de todo mundo, muito certamente! O tempo estava agradável, até um pouco quente... mas precisava tomar um ar, um sol na cara, gastar as pernas, cansar o corpo. E precisava também comprar umas coisas pra casa. Assim, uniria o útil ao necessário: uma caminhada com destino àquele supermercado, paraíso do consumo (!). Agora tudo era motivação para sair, tinha se (bem) acostumado aos passeios... Ainda que os tempos exigissem cautela, outros riscos já tinham sido assumidos: foi-se. O trajeto acabou por se tornar um retorno ao passado, à infância, a memórias esquecidas. Cada rua trazia uma lembrança, uma saudade. Sentia-se livre, saudosista. No topo do morro parou, descansou, virou-se. E a visão que teve, registrou: a igreja! Naquele momento, não atentou pras implicações que aquele registro traria. Só prosseguiu, no caminho. Foi célere nas compras, porque não cabia passeio no supermercado! Necessidades básica