Intercâmbio à mineira


Ela era mineira. Do tipo que se mudou de MG, mas que o coração doía de saudades do jeitim e dos queijos, trem que só quem é mineiro entende! Mas a vida tem que seguir sua rota e ela seguiu. Dona de um sorriso aberto e personalidade cativante, nem demorou a se adaptar à nova realidade. Mulher antenada, logo se adequou também ao universo virtual, aumentando suas possibilidades de expansão das fronteiras geográficas e culturais. Lúcia sempre foi daquelas que não tem papas na língua e que não dispensa um bom papo, independentemente da origem das palavras. E assim conheceu Luiz: um paranaense simpático, já na segunda idade (!). Lúcia achou que valia a pena dar uma chance – contrariando seu histórico de romances, já que ela sempre se envolvera com homens mais jovens e joviais - Luiz não era bem o tipo. Aposentado, viúvo, com filhos, netos e pai doente para cuidar, buscava uma companheira. Lúcia só queria companhia, a princípio. Desde seu último revés amoroso, ela evitava se comprometer. Entretanto, a vida parecia ter outros planos, outros destinos. De criação rígida e tradicional, ele “não precisava de mais uma amiga”, como havia lhe dito. Ela não aguentava aquele peso e traçou um outro caminho, para outras terras. Ainda que involuntariamente, que fique claro. Conheceu o português Jorge nas redes sociais, assim como Luiz. Ambos tinham interesses e visões politicas congruentes, que despertaram o interesse de Lúcia. Ela não se furtava a fazer novas amizades, sempre em consonância com suas ideias e ideais. Jorge estava no país fazendo um intercâmbio e a afinidade entre eles foi instantânea. Não tinha grandes pretensões, mas Jorge tinha toda a energia e a disposição da juventude: sim, vários anos mais jovem! Lúcia nem cogitou a possibilidade, embora Jorge já estivesse demonstrando seu interesse, em conversas cada vez mais frequentes, longas e interessantes! Foram tomar um café. O café virou um chope. Quando se deu conta, ele a beijara! Aquilo não estava nos seus planos, mas o jovem lusitano mexeu com Lúcia. E agora? Ele era tão menino... e ainda tinha o Luiz! Aquela mudança de rota não era do seu feitio. Mas se permitiu experimentar. E o beijo foi tão bom! As conversas se intensificaram, os encontros sucederam e, cada vez mais, ele demonstrava querer se envolver... Lúcia sentiu as luzes de alerta piscando de novo: isso não ia prestar! As obrigações com o mestrado de Jorge obrigaram-no a se afastar e Lúcia considerou providencial aquela distância. Por mais estimulante que pudesse ser, Jorge era alguém para curtir bons momentos. E só. Não sem algum pesar, Lúcia manteve o afastamento e por fim disse a ele que não dava mais. Sabia que não haveria futuro para eles. Nesse ínterim, Luiz acabou por também tomar outros rumos, aliviando o coração e a consciência de Lúcia, que prosseguiu seu caminho, conversando – aqui e ali. A vida estava sempre lhe ofertando possibilidades. Ela que insistia em só molhar os pés, não estava pronta para um mergulho. Não mais. Não ainda. A verdade é que o passado insistia em manter-se ali, boiando. E, enquanto ela não ancorasse seu querer no presente, fosse resgatando o passado, fosse acreditando no futuro, permaneceria à tona. Comeu um pedaço de queijo que a amiga lhe trouxera de sua terra e acessou outra vez seu perfil no mundo virtual: “Oi, tudo bem?” – era assim que ela iria seguir. Lançando sua rede, aprendendo a nadar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Diário de um desafio

Sobre os galináceos

E hoje, o que vai ser?