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Mostrando postagens de março, 2021

Natureza Desnudada

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Sempre me identifiquei muito com minhas origens: indígenas, aborígenes, negras, pardas e afins. Talvez por isso seja tão ligada à natureza, às terras e principalmente às águas. Mas é como índia que tantas vezes me reconheço. Quisera ter coragem de assim viver. Mas já fui há muito domesticada, colonizada, aculturada. Estou adaptada a essa vida urbana. Mas o tribal em mim grita, por vezes esperneia. Quero a liberdade das matas, das águas. Desejo poder me desnudar de amarras estéticas, físicas e emocionais. Mesmo não sendo(?) tão liberta assim. Mas tenho flertado com minha nudez. Apreciado. Experimentado. Ver-me. Despir-me de conceitos e preconceitos. Pré: concebidos, construídos, ensinados. Não somos somente um envoltório? Pra que tanta preocupação? Ocupemo-nos de apenas ser. E cubramo-nos de nós mesmos. Cubramo-nos de amor. Desnudo-me, então.

A sereia da Pampulha - Cap. 7

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Dados os elementos desta história, minha teoria não pode ser considerada assim tão fantasiosa. Pelo menos não pra mim. Se existe uma sereia, que habita as águas da Lagoa da Pampulha e faz eventuais aparições, porque não considerar a sua forma humana, afinal? Porque se ela assim vive, pode muito bem ter se adaptado, para que só em certas ocasiões assuma sua porção sirênica – e esse não é mais um neologismo meu! Faz muito mais sentido e seria mais crível... se é que um “causo” assim pode ser! Por mais que eu goste de relatos fantásticos, super-heróis e afins, um ser que fosse parte mulher/parte sereia poderia estar vivendo entre nós muito mais facilmente. E, junte-se a isso, minhas suposições ainda mais incríveis: por que eu nunca conseguia vê-la, estava sempre desmaiada nas ocasiões em que ela aparecia??? Aquele episódio do clube não me saía da cabeça e estava alimentando uma suspeita que só se reforçava... eu continuava lutando contra o sono, agora mesmo! Logo quando eu encontrara algu

A sereia da Pampulha - Cap. 6

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“Oi, boa tarde, tudo bem? Muitos peixes hoje?” – arrisquei. O grupo era formado por três homens, uma mulher e um menino, esse último o mais animado de todos com a pescaria. A mulher mostrou-se receptiva ao meu contato, seus acompanhantes nem tanto. Leila, com quem consegui começar um papo, estava ali com o companheiro, o irmão e o filho. O outro homem era Wanderley, experiente pescador daquele local e de outros: uma boa fonte de histórias! Foi ele quem realmente se mostrou aberto e disposto a me ajudar – como um bom representante da classe, cheio de “causos” pra contar! Mas tentei saber de Leila e dos demais se vinham sempre pescar ali, se sabiam algo ou tinham algum palpite sobre a sereia. O companheiro e o irmão de Leila seguiram me ignorando, nada satisfeitos com minha presença. Assim, dei por encerrada minha investida com eles e me concentrei em Wanderley. Leila, por sua vez, não se reprimiu com a má vontade dos outros e quis dar sua opinião. Segundo ela, a sereia existia sim: havi

Efeméride

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Porque pensei na efemeridade da vida, dos dias, veio-me.  Porque todos os dias e momentos são importantes, dignos de nota. Por que esperamos? Pela hora que é a hora, quando todas são. Por que não olhamos o céu, banhamo-nos de sol, ainda que no caminho pro trabalho? Por que permitimos que o tempo nos leve e conduza, sem frui-lo? Porque passam-se os dias, os momentos, a vida.  Passou-se um ano. E, sem que eu me desse conta, efemerizou-se. 

A sereia da Pampulha - Cap. 5

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A ideia de visitar o restaurante, que substituíra a casa do famoso presidente, acabou sendo outra “bola fora”. Os funcionários daquele horário pouco ou nada sabiam sobre a sereia, atribuíam à ignorância e fantasia do povo. “Esses pescadores é que ficam inventando história” - desdenharam. Percebi que não estava fisgando nada porque também nada entendia de pescaria... mal, mal, de contar história! Resolvi que conversar com os pescadores seria minha última tentativa, porque minha pseudoinvestigação estava naufragando - péssimo trocadilho! E foi só tomar essa decisão pra sentir um bocejo se aproximando, assim como um sono incontrolável, dominador, que me fizeram abrir a boca sem dó! Assim, sem porquê nem pra que... e não era a primeira vez que sentia isso, sempre em momentos e datas esquisitíssimas! Lembrei que soube da “lenda” da sereia, por uma notícia de jornal popular, exatamente no dia seguinte ao meu primeiro e inexplicável “apagão”. Naquele dia eu tinha ido ao Iate Clube, que fica n

Respingos

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A chuva deixava-a com a alma molhada.  Algo assim como vontade de se enxugar ou de transbordar.  Verdade que felicidade não é item condicionado às mudanças climáticas - ela se repreendia, intimamente. Mas não dava conta de sorrir alegremente com aquela friagem trazida pelo vento e as águas do céu. Sentia urgências de colo, abraço apertado, cama quentinha.  Delírios de canecas fumegantes, pães de queijo saindo do forno e meias ¾ de pernas de galinha + camiseta geek!  Saudade em forma de tarde, no trabalho, no meio da semana.  Ventura de feriado na vida real.  Prenúncios de outono.

Sobre o tempo

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Ansiedade é a tônica deste dia. Mais de dez mil minutos se passaram: quantos nos aguardam? Todos os anteriores e posteriores não existem.  Porque só temos o agora, de fato - que agora não mais é.  Este exato minuto que afixo aqui é apenas uma tentativa.  Não quero ter que guardar nada: nem o tempo, nem memórias. Paradoxal que sou, escrevo: as palavras são registro atemporal. Salvam lembranças e resgatam o tempo. Elas permanecerão, eu pereço.  E, no entanto, revivo e resignifico-me pelas letras. Liberdade há de ser a marca deste dia.   

Diário de um desafio

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Dia 02 Este diário começa no segundo dia. É. Porque no primeiro eu simplesmente não tive esta ideia. E porque, mesmo tentando evitar qualquer movimento que chamasse atenção sobre mim, eu escrevi. Tenho certeza que leu. Mas não se manifestou. E eu, que propus o "desafio", percebi-me esperando um sinal. Confesso: fantasiei que lá pelo quarto, quinto dia, você não iria aguentar e faria contato, querendo acabar com este silêncio! Tentei, eu também, não me manifestar - e escrevi um ensaio (!). Pois pensei que eu não podia nem devia tentar um comportamento modificado. Tudo que desejo é que eu possa ser eu mesma! Ao mesmo tempo, repensei minhas palavras... não queria agir pra chamar atenção. E nem não agir, chamando talvez mais atenção pra ausência. Optei por ser eu: eu, eu mesma e... Preciso falar que tudo me lembrava/remetia a você? "ói procê vê!" - claro que quis te enviar este vídeo! Inexplicavelmente, dormi cedíssimo: 21h40 já estava deitada e só acordei hoje, no dia

Ensaio sobre o silêncio

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Quero as mais altas notas para me silenciar. Quero apenas gritar e falar sem parar dentro de mim mesma. O silêncio me é familiar e necessário, embora cause estranhamento. Sou do tipo que gosta de ficar só e calada, ouvindo-me. E falo muito, o tempo todo – mais ainda na minha cabeça. Tantas e quantas vezes me reprimi e ressenti por essa fala. Então, ironicamente, fui obrigada a fazer repouso vocal. A baixar o tom, a deixar de cantar – notas altas e baixas. Ensaio agora o silêncio. Hoje me calo.