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Mostrando postagens de maio, 2021

Acima das nuvens, abaixo do céu

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Subiu a rua quase correndo, arrastando a mala de rodinhas, de chinelo mesmo: só calçou os saltos no terminal. Não seria nada bom enfrentar aquelas calçadas portuguesas em cima de pelo menos 5 cm! Ainda estava apreensiva com o horário, mas decidiu arriscar e se jogar: era mais que um salto no escuro, era literalmente um salto no espaço! Contou os minutos até o aeroporto, mas nem deveria ter se preocupado tanto: chegou e foi tudo rápido e eficiente, logo já estava no seu apertado assento, na janela. Nem se importou, foi logo fazendo amizade com os companheiros de fileira, expondo toda sua fagueira mineiridade! Ela tentava se controlar, mas seu entusiasmo era notório e audível. Quando o avião começou a taxiar e acelerou, ela se entregou, fez-se criança novamente e vibrou com a decolagem! Olhou as luzes se afastando, brilhando cada vez mais ao longe e, assim como a aeronave, subiu. Elevou-se em corpo e mente, deixou-se levar pela sensação que a invadia e desfrutou daquele momento. Viajou.

Cores (res)guardadas

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As flores caíram.  Guardo-as na folha dobrada, dentro do envelope.   Não há beleza no vaso, agora só galhos vazios.  As folhas estão amarelando.   É o outono do presente.   Há que se aguardar o tempo do renovo.   Porque assim é: as estações se sucedem.  Assim somos: quatro estações.  No futuro, inverno: agasalhemo-nos dos nossos afetos reais.  E então florir novamente!  Tempo de espera. 

Sem medo de avião

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Depois de mais de 40 anos, vou voar de novo! Com asas emprestadas, mas vou. As minhas tenho usado diariamente, aqui e ali. Verdade que há 6 meses tenho empreendido voos mais frequentes. Começaram com um salto no escuro. E não me assustei. Ao saltar, percebi que tinha asas – e podia voar. Então tenho voado: voos longos, curtos, baixos e altos. Como todo voo, há momentos de pegar impulso, bater as asas, planar, alterar a rota, pousar. Mas sempre apreciando a paisagem. Tenho visto muitas paisagens, os cenários mudam a todo instante. Necessário saber entender essa inconstância – ainda estou aprendendo. Quisera um céu de brigadeiro todos os dias! Na impossibilidade do ideal, vivo o real. Todos os dias me dão possibilidade de voo. Nem sempre decolo. Há dias de ficar em terra firme. Há dias de estudar o melhor plano de voo. Nesses mais de 180 dias, desde que saltei, houve também dias de querer desistir de voar. De olhar pro céu e ter dúvidas, muitas. É sempre um risco, qualquer voo – o risco

Entreouvidos

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Dentro dos ônibus que me levam e me trazem, escuto histórias, vejo vidas. Nos caminhos que me são necessários percorrer, ouço, imagino e viajo. Crio enredos, traço desfechos. Como no caso de Daniel e Alice, por exemplo. Hoje em dia ele não se mata mais de trabalhar: não tem mais 20 anos, agora ele quer mais é aproveitar a vida! Fala pra Alice que ela tem que parar de ficar correndo pra lá e pra cá em dois empregos: esse tempo já foi. Que a gente tem que planejar e ralar muito até os 40 anos. Se depois disso não tiver conquistado casa, emprego, família, tem que focar em aproveitar os momentos. Agora ele vive assim. Arrumou um lugar baratinho  pra almoçar no centro e assim, quando chega em casa, tem mais tempo pra si. E pros seus filhotes, motivo de sua dedicação e esforço materiais. Alice parece meditar sobre as palavras de Daniel, mas logo engata outro assunto: o reality show, que ela acompanha 24h/dia, com a assinatura que fez - menos quando a chefe está. Não dá pra ela vacilar, empre

Pisoteada

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Qual a história dos pés?  Os pés pisam: a terra, o chão.  Sustentam-nos. Sustêm-nos. Os pés: suas plantas e solas. Enraizam-nos. Por vezes nos elevam. Por outras nos levam ao baixio dos lugares. Há que se planificar os caminhos. Palmilhar a estrada. Plantar. Sedimentar. Os pés na terra. E, plantados, pisar o céu. 

Quitutes e acepipes

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Necessitava de uma entrega. Entrega de sabores. Ou pelo menos dos meios de fazê-los chegar a ele, de ajudá-lo no preparo. Quisera partilhar mais, mas por ora era o que podia ser. A ideia povoava sua cabeça já há dias. Seria um presente. Porque os sabores necessitam estar presentes. Assim como as presenças há que serem saborosas – e saboreadas. Então viu uma receita, muito apropriada. Imaginou-o preparando aquele prato estilizado numa refeição... idealizou seu deleite, deleitou-se também. Ventilou-lhe as possibilidades, quis ser vento para sentir os aromas. Missão impossível, contentou-se com as benesses virtuais disponíveis. Foi imagem e voz e presença, naquilo que poderia ser. Puderam ambos sentir o mesmo sabor, ainda que ao longe: ela com alguma supressão, mas sem pesar. A realização e eternização daquele momento sublimava as faltas. Não houve excessos, nada ali sobrava. Numa imagem: um delicioso quitute. Em palavras: receita de afeto.

Receita sob encomenda

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Ele adorava cozinhar. Mas só tinha duas panelas, desde que fora morar só: uma elétrica e uma frigideira. Então não se aventurava muito na cozinha, atendo-se ao básico do dia a dia. Aí ela foi visitá-lo e ele contou das receitas que sabia preparar – muito mais que ela! E ela o viu em ação... ficou imaginando... voltou pra casa e aquela ideia amadureceu. Descobriu o endereço, que ela não tinha anotado. Pesquisou um pouco, mas surgiram dúvidas: “e agora? Não é pra ele saber, é pra ser surpresa”! Mas não teve jeito, ela precisou perguntar e ele desconfiou, claro. Mas ela não revelou tudo. Comprou-lhe um jogo de panelas e mandou entregar, no dia seguinte! Viu então a receita: não teve dúvidas, enviou-lhe. Ele adorou – ela já imaginava. E disse a ele que poderia prepará-la adequadamente no dia seguinte... Ele suspeitou, mas mantiveram o jogo, o suspense. Ela mal podia esperar pra saber sua reação ao receber as panelas! No dia seguinte, logo cedo, o pedido saiu pra entrega: oba! Mas alguns de