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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Um brinde! E o descobrimento de Portugal

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Lembro-me do dia em que chegaram. Mas não me lembro de esperar por elas. Eu tinha exatos quatro anos, um mês, dois dias. Antes disso, minhas lembranças resumem-se a alguns flashes na escolinha/maternal. Parece-me que eu as esperava, na verdade. Do dia exato da chegada, precisamente há 43 anos, não tenho recordações reais. Mas me lembro de meu pai me levar à maternidade e visitarmos o berçário. Ele me mostrara minhas duas novas companheiras, na incubadora - nasceram com menos de sete meses! Respondi enfaticamente que as via, sim, quando perguntada: deslavada mentira! Como uma criança de tão pouca idade iria distingui-las, naquele mundo de bebês recém-nascidos? Mas eu queria vê-las... eu já as esperava, ainda que não soubesse disso! É claro que foi também um choque: eu era a única irmã de outros três irmãos, meninos. E, de repente, mais duas! Conscientemente não me lembro da ideia de rejeitá-las, mas provavelmente devo ter chorado, regredido em meu comportamento etc. Mas nada relativo à

Passeio

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Por aqui é passeio. Em alguns lugares diz-se calçada. Uma pesquisa rápida pela internet (!) informa que são coisas distintas. Não importa. Aqui vamos usar passeio, porque serve melhor ao objetivo.  Seus dias vinham sendo intensos. Muitas coisas a resolver, assuntos pendentes e novos - criados. Sentia-se motivado e impulsionado a realizar, criar, produzir. Resolvera que aquele dia seria das pendências. Mas acabou passando na loja de utilidades e providenciando um novo assunto. Para depois, talvez mais tarde.  Certificou-se que os óculos novos estavam corretos e rumou para a sede da associação. Esperava que aquelas fotos 3x4 bastassem para providenciar seu cadastro. Mas a atendente não pensava assim. Barrou-lhe as imagens inverossímeis, a declaração e o cadastro. Retirou-se resignado. Talvez no próximo ano.  Lembrou-se que precisava de provisões para o dia seguinte e encaminhou-se para aquele supermercado novo. Naquele bairro antigo... deu-se conta que durante a semana retomara o contato

Onde cantam os sabiás

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O cursor pisca pra mim: está me aguardando. Não gosto desta obrigatoriedade, mas ainda assim obedeço seu imperativo. As palavras hoje não estão sorridentes. Estão pensativas, reflexivas. Olho pela janela e vejo o mesmo cenário de anos... É sempre igual, mas cada dia é diferente. Agora o sol brilha. Os carros passam, o trânsito flui, indiferente às mazelas alheias - às minhas mazelas. Mesmo sem olhar, sei que a vida segue lá fora: o pipoqueiro voltou ao seu ponto aqui na rua; o motorista do coletivo segue seu itinerário; o senhor em situação de rua aguarda que o dia passe, sentado em sua cadeira. O funcionário da instituição vem buscar as doações, despertando-me dessa letargia. São instantes gratificantes. Converso um pouco com o pipoqueiro e retomo a rotina. Recebo mensagens, atendo ligações, respondo e-mails - trabalho. Divago um pouco. Lembro-me então daquelas palmeiras imperiais. Lá estão, impassíveis e atemporais. Estáveis e disponíveis, bastando pra isso que as admiremos. Olho pro

Olhos essenciais

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As sombras sugerem o que a escuridão oculta.  Apago as luzes pra clarear meus pensamentos. Imagino cenários fantásticos e situações incríveis. Fantasio com os objetos inanimados, para assim te materializar. No aqui. No agora. Em mim. Acendo as luzes da realidade. A chama da vela me ilumina o caminho, me reconduz. Revejo e reconheço cada pedaço seu nos pedaços meus espalhados. Organizadas e alinhadas, nossas partes aguardam o encaixe. Piso em terreno firme, perfumo o estrada e protejo a retaguarda. O destino nos aguarda. Porque "o essencial é invisível aos olhos".  

Belo e horizonte

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Os cenários da cidade me inspiram. Cada enquadramento sugere uma nova possibilidade. A caminho de atualizar meus olhares, registro mais um momento. Tem sido uma rotina agora. Um exercício quase que diário de atrelar às imagens alguma ideia, uma história. Naquele momento não me ocorreu, mas agora ela me vem. Porque tendemos a buscar por belas paisagens, a gostar do que é agradável. Mas costumo dizer que muitas vezes a beleza está ali, esperando pra ser descoberta. Ou valorizada. Otimista convicta, investigo essas bonitezas ocultas. Às vezes elas se perdem ou se escondem sob a capa da tristeza. Quantas vezes passamos por cenas cotidianas com o olhar já embotado, ignorando não só o triste e o feio, mas a vida que ali se encerra. A vida que é bela e feia também, que é alegre e triste, que é iluminada e sombria. Meu olhar apreende a torre do prédio ao longe, emoldurada pela copa da árvore. Percebo o lixo no chão e penso em fazer um novo registro. Ou editar aquela imagem. Mas então me dou co

Os 4 elementos

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Este é um apontamento sobre sonhos. Sobre desejos não realizados. E sobre planos futuros e possíveis. Sempre quis seguir carreira militar. Preferencialmente na Marinha ou Aeronáutica. Na ausência dessas opções, a carreira de bombeiro(a) militar também sempre a atraiu. Mas quis a vida que ela fosse menor que seu desejo. Ao menos no tamanho físico: não tinha a altura mínima exigida pra essas carreiras. Resignou-se - não sem uma certa frustração. Já que não podia voar, pedalava. Se não podia navegar, nadava. E escolheu salvar: a si mesma, em primeiro lugar. E foi nas palavras, escritas e faladas, que a salvação veio: para si e para quem agarrasse aquela boia. Ou aquela corda. Ou os paraquedas: seus preferidos! Vôos altos e rasos, mergulhos profundos ou boiar na superfície: salvar-se! Este é plano possível, passível, palpável. Sorriu então ao ver o carro de bombeiros que passava, com uma oficial que desceu e conferiu algo na carroceria: teria ela a altura certa? Sentiu-se representada: gig

Oratório

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Resolveu fazer uma caminhada: o isolamento estava acabando com sua sanidade - e com a de todo mundo, muito certamente! O tempo estava agradável, até um pouco quente... mas precisava tomar um ar, um sol na cara, gastar as pernas, cansar o corpo. E precisava também comprar umas coisas pra casa. Assim, uniria o útil ao necessário: uma caminhada com destino àquele supermercado, paraíso do consumo (!). Agora tudo era motivação para sair, tinha se (bem) acostumado aos passeios... Ainda que os tempos exigissem cautela, outros riscos já tinham sido assumidos: foi-se. O trajeto acabou por se tornar um retorno ao passado, à infância, a memórias esquecidas. Cada rua trazia uma lembrança, uma saudade. Sentia-se livre, saudosista. No topo do morro parou, descansou, virou-se. E a visão que teve, registrou: a igreja! Naquele momento, não atentou pras implicações que aquele registro traria. Só prosseguiu, no caminho. Foi célere nas compras, porque não cabia passeio no supermercado! Necessidades básica

Entre outras coisas

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Daquelas coisas que a gente só se dá conta quando acontece.  Daquelas pessoas que fazem a diferença no nosso dia, pelo seu sorriso e gentileza. Como quando você está no limite da sua paciência, tolerância e indulgência.  Quando o vírus que contaminou seu coração é mais letal que esse que circula por aí, porque destrói a sua capacidade de sorrir.  De achar graça nas coisas boas da vida.  De enxergar as pequenas maravilhas.  Mas aí me lembro que existe o sr. Domingos: pipoqueiro que há anos oferece seu sorriso e gentileza a quem quiser e estiver disposto.  Que vende a melhor pipoca doce do centro da cidade!  Que tem, ainda, uma piada sobre si mesmo e sua história de vida.  Nunca o vi com a cara fechada.  Eu me envergonho de mim nesses dias, em que me lembro disso e me dou conta. Hoje resolvi que eu me devia isso: resgatar meu sorriso.  Comer pipoca doce depois do almoço.  Porque é de doçuras e sorrisos que necessitamos.  Entre outras coisas.   

Pequenas maravilhas

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Diz-se que a vida acontece quando não estamos olhando. Cada vez mais me convenço disso. Como nesta história que vou contar...  Once upon a time ... Uma mulher-menina-senhora que não se permitia envelhecer. Tampouco crescera muito, mesmo que a tivessem querido convencer dos desejados 1,60m: qual o que! Mas agora ela os aceitava e citava, de boa fé. Mais ou menos uma versão feminina de Peter Pan, mas neste caso a heroína-personagem equivalente era a Mulher Maravilha. Até porque a maravilhosa personagem não envelhecia mesmo, depois de chegada à idade adulta: perfeita adequação. E então um dia, passeando pelo mundo virtual pandêmico, nossa heroína vislumbrou seu herói-nerd-senhor-menino. A princípio, houve resistência de ambas as partes.  Nosso super-herói não se impressionou muito pela imagem trancada de nossa heroína.  Nossa super-heroína pesquisou um pouco mais a partir do que viu de nosso herói, com alguma curiosidade, pois sentiu que havia potencial. Assim, começaram um processo de re