Cerimonial
Em busca de me expressar, encontrei no universo tecnológico um modelo de “carta essencial”: nada mais apropriado. Ela latejava em mim. Necessária. Eu protelava, porque sabia que seria difícil. Como o é: sentir que o tempo passou e o que ele tragou. Nosso tempo passou? Aparentemente sim. Apegamo-nos ao que nos acostumamos, receosos de deixar ir. Entretanto, sinto as ausências: aqui e ali, presentes. As motivações já não são mais as mesmas, os desejos são distintos. E tudo assim, num crescendo do distanciamento se instalando. As palavras são estudadas, comedidas, consternadas. O natural tornou-se constrangedor. Não sabemos mais ser nós, somos flashes do que fomos. Ou um arremedo do que poderíamos ser. Escolhas que fazemos, caminhos que escolhemos. Tentamos conciliar os mundos, mas se torna tarefa árdua: eles (nós?) se encontram povoados de quereres outros, agora. Enganamo-nos com planos e ideias ideais: a realidade se nos apresenta, indigesta. Desconfortamo-nos com nossas presenças, tememos o silêncio definitivo. Blefamos. Mas a vida exige a última jogada: todas as cartas na mesa. As essenciais. Ou esta, pelo menos. E como dizer o derradeiro adeus?
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